Procure Edições Antigas

domingo, 20 de maio de 2012

Identidade Ursina



"I am the son
And the heir
Of a shyness that is criminally vulgar
I am the son and heir
Of nothing in particular

You shut your mouth
How can you say
I go about things the wrong way ?
I am human and i need to be loved
Just like everybody else does"

(How Soon is Now - The Smiths)





Todos aqui sabem (ou pelo menos a maioria) o quanto eu sempre fui complexado com meu peso e com minha aparência. Todos aqui, e apenas aqui... Essa não era o tipo de coisa que eu costumava expressar para quem quisesse ouvir. Mas sim, sempre tive problema em me aceitar como indivíduo obeso com sobrepeso. Mas isso mudou muito desde a minha ultima postagem sobre o tema aqui.

Tempos depois eu descobri que isso só acontecia porque existe uma espécie de regra em nosso meio: se você quer mesmo se sentir desejado por alguém, ou tenha um corpo perfeito e sarado ou frequente o lugar destinado ao seu biotipo, afinal de contas, tem maluco que gosta de tudo, até de gordo. Pois é gente, essa é a verdade: entre os homossexuais, não existe coisa pior do que ser gordo, pelo menos entre os homossexuais da cidade "maravilhosa".

Motivado por essa pressão de interesse e aparências, e também por um pouco de interesse pessoal, eu decidi começar a frequentar a Sociedade Ursina Ckarioca (SUCk, hahahaha, brincadeirinha). De fato, quando eu descobri que havia um lugar onde eu poderia conhecer caras lindos, volumosos, com barba, com jeito másculo, e ainda poder ser desejado por eles, o que pensei foi: ótimo, é pra lá que eu vou. Doce ilusão... Por vários motivos.

Sempre senti uma forte atração por caras com sobrepeso, os barbudos também sempre tiveram minha preferência. Confesso que, por questões adaptativas, meu interesse por caras gordinhos aumentou muito com o tempo. Vamos combinar, desejo não é só aparência física, e além de serem lindos, eu via nesses caras a única possibilidade de ter carinho ou de me sentir desejado. 

Pois é, não sei como é em outros lugares, mas aqui no rio o cara pode ser o cão chupando manga, mas se ele for sarado, bronzeado, e tiver uma tatuagem, todas as atenções se voltam para ele. O Contrário vale para os gordinhos, se o cara for lindo de morrer, simpático, inteligente, beijar bem (...), mas tiver aqueles quilinhos a mais, pode ter certeza, vai passar por um lugar como um fantasma, não será nem percebido, ou pelo menos será a segunda ou terceira (ou quarta, ou quinta...) opção para qualquer pessoa que seja um pouco menos "cheiinha" que ele. Pois bem, em tese, isso não ocorreria em locais ursinos. Docíssima ilusão...

Conheci meu ex-namorado em um grupo de facebook ursino da vida. Foi nesse momento que comecei a frequentar a tal da Carioca Bear Society. E, de cara, muitos mitos caíram por terra. A começar pela própria impressão pessoal do que é ser realmente um urso. Quando falamos em Urso, o que nos vem a cabeça? Caras grandes, com excesso de gostosura, peludões, com barba, jeitão nem um pouco afeminado... Pois é, até hoje pouquíssimos dos ursos que eu conheci obedeceram essa descrição. Meu próprio ex-namorado estava muito longe disso, só o que tinha de urso era o fato de ser muito gordo gordinho mesmo. Na verdade, o fato de eles não serem "pouco afeminados" ou de gostarem de se depilar não me importava nem um pouco, esse tipo de coisa é tão superficial para definir o gosto pessoal ou o objeto de desejo de uma pessoa. E no mais, eu acho muito charmoso quando o cara tem aquele "jeitinho", sabem?

Outro mito que foi quebrado, e esse sim me importa muito, foi o seguinte: urso vai em festa de urso porque gosta de ficar/sente desejo por outros ursos. Isso é a mentira mais deslavada que eu já ouvi sobre o meio ursino, pelo menos para os ursos daqui do Rio. A verdade ursina por aqui é a seguinte: Quem gosta mesmo de urso é chaser (ou seja, 2% da população da Carioca Bear Society), urso só fica com outro urso por Falta de Opção! É triste, mas é a verdade... Não vou dizer que não existem exceções, eu mesmo acho que não me enquadro muito bem nisso, mas posso dizer com certeza que a grande maioria dos ursos cariocas se encaixa nessa regra.

No final das contas, eu mesmo acabei entrando numa reflexão perigosa: será que todos os caras do meio ursino com quem já fiquei (inclusive meu ex-namorado) só ficaram comigo por falta de opção? A conclusão foi a seguinte: Foda-se, e daí? Se eu ficar me preocupando com isso, não vou pegar ninguém, ? E depois, pelo menos nas baladas ursinas as pessoas me olham, e com algum desejo. Eu não sou mais um fantasma. Isso já foi o suficiente para eu retirar o estigma do ninguém-me-quer e ligar o botão do I'm-Sexy-and-I-Know-It... Enfim, só precisava que alguém chegasse pra mim e falasse: "cara, você é lindo!" para eu poder chegar, me olhar no espelho e dizer: "Realmente, eu sou LINDO". Felizmente, essas pessoas já apareceram! rs


"There's a club, if you'd like to go
You could meet somebody who really loves you
So you go, and you stand on your own
And you leave on your own
And you go home, and you cry
And you want to die


When you say it's gonna happen "now"
Well, when exactly do you mean ?
See, i've already waited too long
And all my hope is gone"

(How Soon is Now - The Smiths)





É isso aí, meus amores!
Um abraço de Urso! E um beijo também, só para não perder o costume! ;)

Até o próximo!


sábado, 12 de maio de 2012

Dado Viciado



"Você não tem heroína, então usa Algafan
Viciou os seus primos, talvez sua irmã
Mas aqui não tem Village, rua 42
Me diz pra onde é que é que você vai depois
Por que você deixou suas veias fecharem?
Não tem mais lugar pras agulhas entrarem
Você não conversa, não quer mais falar
Só tem as agulhas pra lhe ajudar"
(Dado Viciado - Legião Urbana)


Hoje me deu uma vontade danada de escrever sobre uma pessoa... Talvez uma das pessoas mais especiais que já passaram pela minha vida. Hoje vou falar do meu melhor amigo... o Wall! Já falei do Wall antes aqui... Já cansei de dizer o quanto ele é especial para mim, já falei de decepções que tive com ele, de frustrações, de diversas situações que experimentamos juntos... Mas ainda assim, vocês não têm nem ideia do quanto esse cara significa pra mim.

Na véspera do ultimo feriado, no final da tarde, Wall esteve aqui em casa. Passamos a noite colocando o papo em dia, ouvindo "The Smiths", "Bauhaus" e Joni Mitchel, falando besteiras e fazendo nossas conjecturas impossíveis. É bom saber que Wal hoje está seguindo um caminho regular, que não tem mais motivos para entrar em depressão, ou para se achar improdutivo. Sim, Wal sempre foi um cara depressivo, e eu sempre quis ajuda-lo, mas muitas vezes não sabia como. As vezes eu tinha a sensação de que apenas eu enxergava o quanto Wall era genial, e isso me dava uma aflição... De qualquer forma, eu sempre procurei estar por perto quando ele precisasse de mim, e ele, sem dúvida, foi o único amigo que também sempre esteve do meu lado, por mais que muitas vezes estivesse distante.

Exatamente por esses motivos eu sempre me preocupei muito com o Wal. Ele é o tipo de amigo que não se pode nem pensar em perder. Acho que uma das fases mais tensas foi há pouco mais de 2 anos. Na época, Wall começou a trabalhar como frentista em posto de gasolina onde seu pai era gerente. Ele trabalhava no turno da madrugada, e como o bairro dele fica em uma região isolada da cidade, aquele era o único posto de gasolina que funcionava até este horário naquela região. Na época tínhamos 18 ou 19 anos e um monte de ideias doidas na cabeça... Uma delas era a de experimentar algumas drogas ilícitas, como maconha, LSD, Ecstasy e Cocaína, só para ver como é que era... Coisa de adolescente mesmo, que quer experimentar de tudo que a vida tem a oferecer

Certa vez, durante seu expediente no posto, Wall estava atendendo 3 caras. Eles estavam bebendo cerveja. Em determinado momento, um dos três pegou alguma coisa no bolso e o grupo se reuniu mais, na tentativa de esconde-la. Quando reparou que havia algo errado, Wall ficou tenso. Um dos rapazes percebeu sua reação e, com medo de que Wall tomasse alguma atitude contra eles, ofereceu um pouco do conteúdo que havia no recipiente que retirara  de seu bolso: cocaína. A julgar pelas ideias que tínhamos naquela época, nem preciso dizer se meu amigo aceitou ou não a oferta, não é?

Eu fui o primeiro a saber. Wall fez questão de ligar pra mim no dia seguinte para se gabar da aventura. Confesso que senti uma pontinha de inveja, afinal de contas ele estava na "vantagem" sobre mim. De qualquer jeito, eu "sabia" dos perigos que uso imaturo e descontrolado destas substâncias poderia trazer, e isso me deixou tenso. Conhecendo a personalidade depressiva de Wall, sabia o uso de cocaína poderia se tornar muito conveniente, e que a propensão ao vício seria maior nesse caso. No entanto eu não o repreendi, só o alertei para que não fizesse mais... Ele já tinha provado, era isso que ele queria, já estava de bom tamanho, né?

Mas não foi bem isso que aconteceu... Wall não era muito de ouvir conselhos. Ao contrário do que eu tinha sugerido, Wall criou uma espécie de rotina para usar a droga. Os mesmos caras do primeiro dia traziam a droga para ele quase que diariamente, e quando pararam de trazer, ele passou a procurar outros meios de obter a cocaína. Em menos de um mês ele já estava fissurado, e já estava usando outras drogas, como maconha. Foi aí que eu comecei a ficar seriamente preocupado... Já cheguei a presenciar algumas vezes ele usando cocaína. Aquilo nunca me chocou, mas não podia deixar de ficar preocupado. Na época (eu sei que nem faz tanto tempo) eu tinha um pensamento totalmente diferente do que eu tenho hoje sobre drogas ilícitas, e eu tinha medo de verdade de que algo muito sério acontecesse com meu melhor amigo...

Talvez tenha sido o próprio Wall que tenha feito eu mudar meu pensamento em relação ao uso de drogas ilícitas. É um assunto muito complicado e polêmico para eu discutir aqui nesse post, que por sinal já está bastante extenso. A grosso modo, podemos dizer que a mídia dá uma boa exagerada, por motivos extremamente complexos além de apenas a preocupação com a saúde dos usuários. A questão é que o fato de meu amigo fazer uso de drogas não o impediu de ser uma pessoa brilhante e bem sucedida. Essa era a minha maior preocupação, depois é claro da de perder o Wall para sempre, literalmente. Ele aprendeu a controlar o consumo e hoje convive bem com isso. Está lá, estudando, fumando os seus baseados de vez em quando, dando suas aulas de inglês, se mostrando até mesmo mais brilhante do que eu poderia imaginar.

É incrível como certas pessoas tem o poder de entrar na nossa vida e nos fazer aprender muito sobre muitas coisas. Não sei mais se devo chamar o Wall de amigo. Ele é muito mais que isso. É o irmão que eu escolhi. Minha convivência com Wall me ensinou tanta coisa... Ele sempre significou muito pra mim, por isso tive tanto medo de que algo de ruim acontecesse a ele. No final das contas, ainda pude tirar algo positivo de uma situação que tinha tudo para dar errado. Na verdade, hoje até rimos do que aconteceu naquela época! E que bom que rimos, e podemos ouvir nossa música boa em paz nos feriados, ele pode corrigir meu inglês tosco... De uma coisa eu tenho certeza, não é qualquer narcótico que seria capaz de levar embora o meu melhor amigo... Eu não deixaria, mesmo que o caminho não tivesse sido esse!

"And I'll be there
You've got a friend.
If the sky above you grows dark and full of clouds,
And that old north wind begins to blow,
Keep your head toget-her and call my name out loud.
Soon you'll hear me knockin' at your door.
You just call out my name, and you know wherever I am,
I'll come running to see you again.
Winter, spring, summer, or fall, all you have to do is call"
(You've Got a Friend - Carole King)




Então, gente... Era Isso!
Um grande Beijo a todos vocês!
Até o próximo...


EDIT: Pra quem estiver curioso, agora já é possível acessar o blog do Wall, hauahau. Ei-lo aqui: http://domoestrelado.blogspot.com.br/