"Tonight I'm gonna have myself a real good time
I feel alive and the world is turning inside out Yeah!
I'm floating around in ecstasy
So don't stop me now don't stop me
'Cause I'm having a good time having a good time"
(Don't Stop me Now - Queen)
Vamos dar uma pausa nos posts subjetivos e dar lugar a uma coisa mais direta: a argumentação. Pois então, o que motiva esse meu desejo de argumentar foi apenas um comentário, que para a maioria das pessoas pode ter passado desapercebido, mas me chamou muita atenção. Meu amigo Raphael Martins (vulgo Enrustido) foi entrevistado em um blog super legal de conteúdo adulto, e me passou a entrevista para eu ler. O texto dizia muito da personalidade do Raphinha, que ele é um cara muito legal, antenado, careta (haha), e que é apaixonado pelo Juan. O que me incomodou mesmo foi um comentário que ele fez no final da postagem, falando para nos valorizarmos enquanto gays e evitarmos a "promiscuidade". Eis aqui o comentário transcrito:
"Se valorizem. Evitem a promiscuidade. Quem sabe daqui a algum tempo podemos mudar a imagem ruim que a sociedade tem em relação aos gays."
De cara, eu li esse comentário e já ia passar desapercebido por mim também. Mas daí eu voltei, pensei... Tem algo que me incomoda nesse comentário aí...
Não sei, me passou a impressão de que todo gay é promíscuo. Tá, não sejamos hipócritas. Existe sim muita promiscuidade entre os homossexuais. Talvez até possamos associar essa característica aos homossexuais. Mas, não sei... Passou também a impressão de que isso é uma característica exclusiva dos homossexuais, e que esta característica exclusiva era a origem de todos os males que sofremos, ou no mínimo de uma imagem feia que criaram da gente.
Pra começar, promiscuidade não é uma característica restrita aos homossexuais. Tanto que existe antes mesmo de a ideia de homossexual existir. Ah, vamos, promiscuidade por promiscuidade, existem muitos outros grupos que estão muito mais associados ao termo do que nós, gays. Um exemplo disso são os padres pedófilos, maridos e esposas adúlteros, prostitutas e profissionais do sexo, enfim. Não sei exatamente quando nem como a promiscuidade foi associada aos homossexuais. Talvez o que nos diferencia em relação a outros grupos é o fato de alguns de nós assumirmos a promiscuidade como algo normal, ou cotidiano.
E de fato, o que tem de errado nisso? Devemos mesmo nos preocupar tantos com estes princípios morais? Se encanássemos com princípios morais, entraríamos num caminho sem volta em direção a negação do nosso próprio desejo. Que desejo? O mais óbvio, sentir atração por pessoas do mesmo sexo. Afinal de contas, isso também não é assim tão bem visto pela sociedade de maneira geral, não é? Isso faz com que, por menos promíscua que a pessoa (gay) seja, de uma forma ou de outra, ela acaba quebrando esse paradigma social que vivemos devido aos tais "princípios morais" simplesmente por ser gay. Claro que não estou falando que, se você é gay, necessariamente tem que ser promíscuo. Mas daí a condenar a promiscuidade (e simplesmente ela) como a causa dessa imagem tosca que temos perante a sociedade cristã ocidental já é demais, né? Por que não ser indiferente, não é verdade? E depois, tanto eu quanto vocês sabemos que o buraco é muito mais embaixo...
Como eu já questionei, será mesmo que somos tão oprimidos assim simplesmente por sermos seres promíscuos e assumirmos isso? Ou será que o simples fato de nossa própria origem ferir os princípios ideais da sociedade já basta? Basta, claro que basta. É só pensar em quantos homossexuais nunca tiveram a chance de terem contato sexual com nenhum ser humano e mesmo assim são mal vistos pela sociedade... O simples fato de você gostar de homens já é motivo para ser alguém à margem. E não, a promiscuidade não interfere nisso. Mas essa situação nos permite algo extraordinário: abrir a mente. Nos dá a chance de pensar que, conhecer outras pessoas, pessoas diferentes, ao mesmo tempo e em tempos diferentes, pode deixar de ser um ato condenável para se tornar um ganho de experiência. Ser promíscuo não é condenável, é apenas um desejo, que diz respeito única e exclusivamente a cada um de nós, de conhecermos outras pessoas e compartilharmos uma coisa maravilhosa com elas: o prazer.
Mas isso seria banalizar o sexo, não é verdade? Sim, seria. E o que há de errado em banalizar o sexo? O sexo pode sim ser uma situação de comunhão entre duas pessoas que se amam, mas também pode ser simplesmente uma forma de relaxar e ter prazer. Quem decide isso é a pessoa que faz, e ninguém tem direito de julga-la por causa disso. Há quem diga que é um problema de saúde pública, que existe hepatite B, hepatite C, HIV, HPV, HTLV (melhor eu parar, se não o post vai ficar grande demais), e é fato que camisinha não protege contra todos eles. E daí? Você pode pegar essas doenças com qualquer pessoa, seja ela promíscua ou não, basta ela ter a doença. E depois, ser promíscuo não é ser burro, dá sim para ter o mínimo de critério na hora de escolher um parceiro sexual, seja para uma transa ou para o resto da vida. Uma coisa é você fazer sexo com pessoas que você nem mesmo conhece pessoalmente, outra é fazer isso com pessoas com quem você já tem algum nível de intimidade (amigos e colegas, por exemplo). No final das contas, com um pouco de cautela e tomadas as medidas de segurança necessárias, dá para aproveitar a vida numa boa, sem ficar grilado.
No final das contas, só o quero dizer é o seguinte. As pessoas usam a promiscuidade para justificar preconceitos, homofobia. É só você perguntar a alguém, "Por que não gosta de Gays?" ou "Porque você é contra os Gays?" pra pessoa responder: "Porque são um povinho muito promíscuo". Mentira, hipocrisia. Promiscuidade não define o caráter de ninguém, e a origem do preconceito é muito mais complexa do que simplesmente a promiscuidade. Deixar de ser promíscuo não vai fazer diferença nenhuma na imagem que a sociedade tem da gente, mas vai sim ajudar a reprimir cada vez mais o que sentimos e o que queremos. Não tem nada de errado em querer ter relações sexuais com mais de um parceiro por um curto período de tempo, ou mesmo com mais de uma pessoa ao mesmo tempo, seja(m) ela(s) do mesmo sexo ou não, basta que você tenha o mínimo de critério e tome as devidas precauções.
"I'm burning through the sky Yeah!
Two hundred degrees
That's why they call me Mister Fahrenheit
I'm traveling at the speed of light
I wanna make a supersonic man out of you
Don't stop me now I'm having such a good time
I'm having a ball don't stop me now
If you wanna have a good time just give me a call
Don't stop me now ('cause I'm havin' a good time)
Don't stop me now (yes I'm havin' a good time)
I don't want to stop at all"
(Don't Stop me Now - Queen)
Ai ai ai... Polêmica, como eu adoro polêmica. Antes que eu me esqueça, quero agradecer ao Raphinha pela inspiração. Espero vocês não pensem que eu sou uma frick bich, como diria a Gaga. Pelo contrário, sou um rapaz certinho, tímido, ingênuo... Mas, entre 4... deixa pra lá.
Um abraço, biches... Até o próximo!