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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Sangue Latino

"Jurei mentiras
E sigo sozinho
Assumo os pecados

Os ventos do norte
Não movem moinhos
E o que me resta
É só um gemido

Minha vida, meus mortos
Meus caminhos tortos
Meu Sangue Latino
Minh'alma cativa"
(Sangue Latino - Secos & Molhados)



Há cerca de um ano, minha irmã resolveu abrir três tarôs para mim. Entre diversas previsões e conselhos em um momento tão unicamente complicado na minha vida, ela disse: nunca se perca das suas origens...  E lá fui eu, alçar meu tão longo e esperado voo, cheio de dúvidas, mas firme, e pela primeira vez na minha vida, sem medo...

Eu poderia cair no clichê de dizer: ah,  mudar de país é muito difícil. Isso, pelo menos no meu caso, foi uma grande mentira. Não sei se eu sou extremamente adaptável ou se escolhi o país ideal, mas nunca tive dificuldade na adaptação, tive poucos problemas com a língua e todos os desafios me pareciam extremamente excitantes apenas pela novidade... O que é difícil mesmo é ficar longe de casa. 

Com o passar do tempo acabamos criando um sentimento tão estranho que é até difícil de explicar. As vezes a identificação cultural é tão grande que acaba sendo maior do que a sua identificação com a cultura de origem. E então, você se pergunta: qual é o seu verdadeiro lugar no mundo?

Essa com certeza é uma questão que me corroeu por meses... Principalmente porque eu decidi, por mim mesmo, não me desligar e não me alienar das minhas tais raízes... Confesso que a hipocrisia é desanimadora, que a auto-crítica não fundamentada é feia e, principalmente, a fragilidade ideológica de um povo que só sabe reclamar e nada sabe fazer é algo extremamente perigoso.

Mas por outro lado, por mais que seu lugar não seja um cenário perfeito de Hollywood, onde as casas não possuem cercas, as famílias são felizes, todos são tão normais e iguais e tão chatos... Você sempre sabe onde fica sua verdadeira casa. Alguns podem me chamar de louco, mas por mais que eu ame muito essa nação que me acolheu tão bem durante quase 11 meses até agora, eu não saberia viver longe do Brasil... O Sangue fala mais alto, talvez. Ou é apenas um desejo imenso e desesperado de voltar e ajudar a fazer as coisas funcionarem.

Podem me chamar do que for, mas eu acredito no meu país. Eu amo a minha cultura, a minha língua, até mesmo os defeitos. Amo os chatos da classe média, os jovens que lutam muitas vezes sem causa, os alienados que reclamam mais do que fazem, e até mesmo cada delinquente que morre injustamente nas mãos de uma polícia fascista.

Não se trata mais apenas de não romper com minhas origens. Isso seria impossível mesmo que eu nunca mais voltasse para o Brasil. Agora é uma questão de honra, de princípios, uma missão... Viver no Québec tem sido maravilhoso, e muito enriquecedor. Mal posso esperar para aplicar tudo o que aprendi por aqui, em todos os campos...

É feras... Eu estou voltando... Melhor e mais chato que nunca! ;)

Gros Bisous, à la procheine...

4 comentários:

Gui disse...

É, uma pena que para mim tenha sido exatamente o contrário. Feliz por você, já que essa viagem também te ajudou a encontrar seu verdadeiro lugar.

Wildeman disse...

Fica, vai ter Bar das Quengas !

Latinha disse...

E não há lugar como nosso lar!!! ;-)
Essa questão do nosso lugar no mundo dá uma boa reflexão...

Welcome back!

FOXX disse...

Estamos com saudade