"E há tempos nem os Santos têm ao certo a medida da maldade" (Há Tempos - Legião Urbana)
Desde de o ultimo post que eu fiz abordando religião, mais especificamente as religiões cristãs, eu pensei em fazer um próximo post sobre o assunto com pH = 2 (bem ácido). O post de hoje, no entanto, deve estar ajustado a pH = 5 (ácido, mas não tanto). O motivo disso é simples, se não for óbvio: a medida que o tempo passa, e entramos em contato com pessoas e coisas novas, nossa impressão geral sobre certo assunto relacionado a essas pessoas e coisas muda (não necessariamente para melhor, claro), a não ser que você seja um ignorante. E sim, mudanças de opinião são sempre muito bem-vindas...
Não sei se todos aqui sabem, mas eu sou Ateu. Só que, ao contrário do que muitos possam pensar, essa minha posição em relação a Deus nada tem a ver com minha orientação sexual, ou mesmo com a minha admiração pelos ideais de Marx e Engels. Talvez tenha sido a minha criação pouco religiosa, mas o fato é que eu nunca consegui admitir o conceito de "Deus" segundo a visão do cristianismo, ou qualquer outra religão com a qual eu tenha tido contato até agora.
No entanto, o fato de eu não acreditar em Deus não significa que eu tenha perdido o contato com os ideais do cristianismo. Eu cheguei a frequentar a catequese, por um ano, quando era criança. Já fui em missas, cultos batistas, entre outras reuniões de cunho religioso. Eu fui criado em uma familia que, apesar de não ser apegada a religião, traz a essência da ideologia cristã nas atitudes e na forma de pensar, afinal de contas, comemoramos feriados cristãos, realizamos batizados, casamentos... Já é algo muito profundo e presente na nossa cultura.
Analisar a ideologia cristã de fora é algo natural e muito mais imparcial para uma pessoa que não tem compromisso com a fé. E sim, eu acabei me tornado um admirador do cristianismo enquanto ideologia, o que me fez ser ainda mais crítico com as religiões que supostamente se baseiam nesses prceitos. É só você refletir um pouco para ver que, em detrimento da própria ideologia, os ditos cristãos (sejam católicos, espíritas ou protestantes) não hesitam em utilizar trechos da Biblia, por exemplo, para justificar seus próprios preconceitos. Só que, fazer isso de maneira tão raza acaba os levando a cair em contradição. Em outras palavras, eles chegam a negar o ensinamento mais importante da ideologia cristã - o amor ao próximo - simplesmente porque não querem ou não fazem o mínimo esforço para abrir a cabeça.
Não vou ser hipócrita de negar que isso me deixou com uma certa implicância pelas religiões, e principamente pela forma como elas tratavam a ideologia cristã. Mas, diferente da minha opção de não me submeter a nenhuma divindade, esta atitude defensiva surge justamente das minhas ideologias politicas e mais ainda da minha orientação sexual. Como é possivel a ideologia do amor negar o próprio amor? Torna-lo ser uma coisa errada, simplesmente porque não estamos acostumados com certas formas de amor? Como pode um "cristão" se sentir no direito de julgar meus atos, sendo que o próprio ato de julgar já é condenado pela ideologia cristã? Não interessa se está escrito na Bíblia com tanta clareza (até hoje eu nunca li algo objetivo na Bíblia, mas relevemos), eu não posso simplesmente desafiar a lógica e tentar tolerar religiões ou crenças que me apontam como uma coisa errada, sendo que eu tenho plena consciência de que não sou (e posso encontrar argumentos que sustentam isso baseados nos próprios discursos de pastores e padres).
Até semana passada ou reatrazada, eu não havia conhecido nenhum cristão (católico ou protestante)
que apresentasse uma visão coerente de sua religião, ou de como o próprio a praticaria... Até que eu tive uma conversa com o
Sérgio... O Sérgio é amigo de faculdade da
minha irmã. Já haviamos nos falado antes, mas recentemente temos nos aproximado um pouco mais,
em razão da própria blogosfera. Eu já sabia que Sérgio era
protestante, mas nunca cheguei a conversar com ele sobre como ele lidava com sua própria sexualidade. Ter essa conversa com ele me surpreendeu.
Diferente do que um cara preconceituoso como eu muitas pessoas possam pensar, Sérgio é um cara muito bem resolvido sobre sua sexualidade. Ele é bissexual, e não esconde isso. Se for preciso, ele argumenta com sua mãe, com sua avó, com o pastor de sua igreja, que se for para ele amar um homem, e vai amá-lo, e que não será errado por isso. Errado é ser hipócrita, é negar o amor. E não é por pensar assim que ele vai se afastar da igreja, pelo contrário... Sérgio é membro ativo da igreja, daqueles que participa de todos os eventos possíveis, e que gosta e acredita naquilo que faz. Não nega suas origens. E isso é muito bonito de se ver, não só por ele tratar o assunto de maneira muito mais coerente, mas por ele realizar o papel que sua igreja deveria realizar: difundir a ideologia do amor da maneira mais efetiva possível, sem cair nas contradição ou adotar atitudes hipócritas. Só por isso, Sérgio já é um revolucionário. Garanto que muitas pessoas estariam mais felizes se em cada igreja protestante ou catolica existisse um cara como o Sérgio...
Quanto a mim, depois dessa, vou tentando eliminar meus preconceitos. Antes eu confesso que era muito intolerante com pessoas extremamente religiosas. Hoje eu vejo que isso só me torna tão ignorante quanto os próprios hipócritas que ainda existem nas Igrejas Católicas e Protestantes. Fico feliz de poder me tornar uma pessoa melhor por me dar conta disso, e fico feliz que pessoas como o Sérgio possam ajudar a tornar pessoas antes cegas pelo preconceito em pessoas melhores.
"Existem muitos formatos
Que só tem verniz e não tem invenção
E tudo aquilo contra o que sempre lutam
É exatamente tudo aquilo que eles são"
(Marcianos Invadem a Terra - Legião Urbana)
Há Tempos - Legião Urbana (Versão Acústica)
Então, é isso, minha gente... Espero ansioso pelos comentários, principalmente pelas alfinetadas... hahaha
Um beijo, sem preconceito.... Até o próximo post!