Oi pessoal...
Eu não pretendia postar hoje, de verdade. O meu final de semana está acabando e eu ainda nem toquei no meu fichário. Deveria estar seguindo o esemplo do meu padrinho, que está estudando feito um doido nesse final de período. Mas eu não tenho cabeça para estudar... Pelo menos não hoje! Hoje, pessoal, foi um dos dias mais importantes, emocionantes e felizes da minha vida. Preciso dividir esse momento com vocês.
Pois bem, vamos começar explicando esse tírulo. Não, eu não resolvi virar hetero e arrumar uma companheira mulher, até por que isso seria impossível, na minha visão. A companheira de que falo é a minha mãe. Eu sempre tive uma relação maravilhosa com minha mãe, mais do que com meu pai. É claro, eu amo muito meu pai, mas ele sempre trabalhou muito, não participou de muitos momentos importantes na minha formação, e eu não julgo ele por isso, afinal de contas ele sempre esteve presente nos momentos em que precidei dele. Mas minha mãe não, eu não consigo imaginar um momento da minha vida em que minha mãe não estivesse presente. Mesmo ultimamente, com os problemas de saúde que a tiram a liberdade, ela sempre dá um jeito de participar das coisas importantes que acontecem comigo. De mim, com relação a ela, também nunca foi diferente. Sempre tivemos uma relação muito forte, eu sempre fiz questão de acompanha-la também, seja nas compras mensais ou semanais ao mercado quando ela ainda tinha plena saúde para fazer isso, até as ultimas idas à casa da vovó e do vovô, nas quais minha presença já era necessária, pois a saúde dela já a impedia de andar sozinha nas ruas. Ela sempre me chamou carinhosamente de companheiro, aquele que nunca a abandona, que sempre a acompanha onde quer que ela vá...
Como eu já disse antes aqui, não só minha mãe, mas também meu pai, sempre foram muito liberais, e nunca ligaram a mínima para o que os idiotas da familia falavam sobre a educação que eles davam a mim e a minha irmã. Para vocês terem uma noção, quando eu tinha uns 5 anos, eu era fã do desenho "A Pequena Sereia", e também adorava bonecas Barbie... Foi lançada na época uma boneca da Ariel que tinha um cabelo enorme que ia até o pé. Eu fiquei doido quando eu vi aquela boneca na loja (nem precisa dizer que eu fiz a maior pirraça dentro da loja querendo a boneca, desde de pequena eu já era barraqueira, kkkkkkkkkk). Diante disso, meus pais, ao invés de me recriminar, me bater, gritar comigo ou até mesmo comprar uma bola no lugar da boneca, resolveram comprar a boneca mesmo e me dar de presente. E que se danem os idiotas que insistiam em dizer que eu ia virar um viadinho e que isso era culpa deles (que eu virei um viadinho é verdade, e com muito orgulho eu digo isso, mas isso não é nem de longe culpa dos meus pais, aliás, isso não é culpa de ninguém, mas isso não é assunto a ser discutido aqui).
Pois é, mesmo meus pais sendo assim tão compreensivos, muito mais do que muitos outros pais que eu conheço, eu nunca tive coragem de dividir a questão da minha sexualidade com eles. No início por medo e preconceito meu mesmo, mas naquela época eu tinha 12-13 anos, não sabia de nada da vida, não tinha a mínima noção das coisas, era muito frágil e qualquer negação poderia representar um trauma para toda vida. A medida que as coisas foram acontecendo, eu fui arrumando outras disculpas, como a própria saúde da minha mãe, ou o medo de expor meus pais a fofocas de gente sem noção que pertence a minha familia. Todas essas disculpas, pelo menos em parte, faziam sentido pra mim, e eram verdade. Mas no fundo eu sabia (e sempre soube) que eu nunca dividi isso com eles por medo, medo de não sei onde, por que eu sempre soube que eles me aceitariam... Acho que medo que a própria sociedade nos impõe, e eu nunca tive maturidade suficiente para enfrentá-lo, pelo menos não até agora há pouco....
O fato é que foram vários fatores que me levaram a abrir o jogo. O primeiro é óbvio, eu já não aguentava mais (vide isso). Segundo, se por um lado eu não tinha coragem de contar a verdade pros meus pais (principalmente pra minha mãe), por outro eu tinha um medo enorme de ela achar que eu não confiei nela, afinal, ela é a minha companheira, sempre esteve presente em tudo de importante que acontece na minha vida, ela deveria ser a pessoa mais confiável do mundo pra mim (e é), além disso, muita gente já sabia da minha sexualidade, se ela soubesse das coisas por outra pessoa, seria uma exposição desnecessária, e ela ficaria muito decepcionada comigo. Uma outra coisa, a gota d'água, que me fez enchergar com mais clareza tudo isso que estou escrevendo aquí, foi uma conversa com o Gui... Estávamos falando pelo msn, e ele, da meira que só ele sabe fazer, jogou todas as verdades bem na minha cara, como se fosse um murro bem dado, daqueles de deixar você tonto e de levar um tombo... Naquele momento, ele me fez ver que todo aquele medo que eu sentia da reação de minha mãe era desnecessário, descabido e era gerado exatamente pela minha imaturidade. Naquela hora, eu percebi que não podia passar desse final de semana...
Tudo aconteceu ontem, eu fiquei o dia inteiro tomando coragem e esperando o momento certo, a hora em que eu e ela estaríamos sozinhos. Por volta das sete e meia da tarde, eu fui com ela pra cozinha fazer pizza para o jantar... Fizemos tudo, montamos as pizzas, e ela estava lavando a louça, tinhamos conversados sobre coisas diversas, e no momento, estávamos em silencio... Foi então que eu dei o primeiro passo: "Mãe, preciso te falar uma coisa, mas eu nem sei por onde começar...", daí em diante eu engasguei, não sei porque, mas eu não consegui falar mais nada, comecei a chorar. Ela, como sempre preocupada comigo, imaginou um monte de besteira: "Você ta sofrendo bulling na faculdade, filho??", "Você não vai conseguir passar na faculdade esse ano??", preocupações normais, minha única resposta: "É muito mais complicado que isso".
"É algo que está te fazendo sofrer, filho?", eu disse: "Sim, mãe, há muito tempo. Acho que você já sabe do que se trata". Seria pretenção demais da minha supor que ela não saberia. Daquele ponto eu comecei a falar, falei tudo, desde tudo o que eu sofri no início da puberdade até este blog... Ela segurou a minha mão, e disse: "É meu filho, eu já desconfiava sim". Depois ela disse que todo aquele sofrimento era desnecessário, que se eu tivesse contado antes, ela teria a oportunidade de me apoiar. Falou que não importava a minha sexualidade, de jeito nenhum, e o que ela queria ela já tinha, um filho honesto e brilhante que nunca faria mal a ninguém. Falou ainda que agradecia muito a Deus por eu ser "discreto" (não gosto muito desse termo, mas daí a esperar dela algo diferente já era demais), não por que eu chamaria atenção se fosse de outro jeito, mas porque sendo assim eu sofreria menos preconceito, e a coisa que a deixaria mais triste na vida dela era se alguém me humilhasse por causa da minha sexualidade. Por ultimo, ela falou que quando eu conhecer um garoto legal, que valhga a pena pra mim, ela fará questão de conhecer, e se eu quiser traze-lo para dormir comigo lá em casa, eu terei liberdade de fazê-lo, pois tenho tanto direito quanto a minha imã...
Foi menos um peso enorme nas minhas costas.Confesso que já esperava essa reação dela, mas supreou as minhas espectativas. Minha mãe é o máximo, e eu amo muito ela. Ela sempre vai ser minha companheira, a única mulher da minha vida. Agora, eu tenho liberdade, sou livre, transparente, CINTILANTE... kkkkkkkk... O fato é que nada mais importa agora, quem importava já sabe, e continua me amando do mesmo jeito, não preciso carregar a culpa de ter decepcionado a pessoa que mais me ama nesse mundo. O resto é fichinha....
Bem gente, desculpem o post toscamente gigante, mas não podia ser de outro jeito. Eu tinha que dividir isso, e além do mais, esse momento tinha que ser documentado aquí. Só tenho a gradecer a vocês, por todas as palavras amigas, vocês foram fundamentais para que eu desse esse passo definitivo.
Um grande abraço a todos vocês... Até o próximo post!