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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Cansei de ser opaco!

Sabe gente, há pouco menos de três anos eu acho que nunca me imaginaria escrevendo as coisas que escrevo aquí... Sim, porque eu sempre fui muito conformado, receoso, e sempre penso duas vezes (geralmente mais que duas vezes) antes de fazer uma coisa. Na verdade, há três anos eu não planejava contar para ninguém a respeito da minha sexualidade. Esse era o segredo que eu queria carregar para o túmulo. E o pior, eu já tinha admitido para mim mesmo que essa era uma característica minha, que eu não ia mudar, aquela fase em que pensamos que vai aparecer uma garota perfeita que vai nos fazer virar "homens" já tinha passado para mim. A tal garota nunca tinha aparecido na minha vida e eu sabia que ela nunca ia existir. Isso transformou o ano de 2008 no ano mais difíciu da minha vida até hoje. Simpelsmente foi o ano em que todos os meus problemas resolveram se juntar para dar uma forcinha um ao outro: eu tava pressionado por causa do vestibular, me tremia todo só de pensar que eu poderia não passar e ficaria um ano inteiro parado e inútil, me matei de estudar essa ano, gastei mais tempo do que eu podia com isso, perdi horas e horas de sono; a preocupação com o estágio, que eu deveria fazer antes de terminar o ensino médio, senão eu não me formava; a preocupação com o meu corpo, é que eu sempre fui complexado com o meu peso, eu nunca me conformei de ser assim, gordo, e isso era muito pior na época da escola, me consumiu muitas lágrimas, feriu muito meu ego, minha auto estima, feridas cujas cicatrizes permanecem até hoje e ainda doem de vez em quando; e finalmente, o pir de todos os problemas, a minha sexualidade...
Numa sociedade em que os jovens iniciam sua vida sexual no meio da adolescencia, eu me sintia um peixe fora d'água: aos 17 anos eu ainda era virgem. Eu sabia por que eu ainda era virgem, porque eu não queria perder minha virgindade com uma mulher, e nem tinha coragem de mostrar para qualquer outra pessoa que na verdade eu queria ficar com um homem. Mas isso era só uma preocupação boba de adolescente, hoje eu vejo que o problema não era exatamente esse, era muito maior. Eu não pensava só nessas coisas, também me preocupava com as consequencias a longo prazo disso: eu tentava me imaginar como eu poderia ser feliz dali pra frente... Será que satisfação profissional era suficiente? Essa era a minha única alternativa, porque a minha vida amorosa e sexual eu já tinha decidido, ia joga-las no lixo...
Claro, eu não iria me casar com uma mulher só para agradar aos terceiros, não seria justo nem comigo e nem com ela, ela seria infeliz por não ser amada, e eu não seria feliz por não ama-la, e ainda teria a questão do sexo, que com certeza pode acabar com qualquer relação (na verdade, a falta dele). Não é justo brincar com o sentimento de uma pessoa só para mentir dizer para o mundo que você está seguindo o padrão. Diante disso, a única alternativa que me restava era romper com a minha vida sexual e amorosa. Me tornar um homem solitário, assim pelo menos o unico prejudicado seria eu.
Nunca passou pela minha cabeça contar para os meus pais ou para um amigo próximo sobre a minha sexualidade. Eu tinha 17 anos, morria de medo de ser isolado, discriminado, joagado de lado, só por causa da minha sexualidade. As pessoas sempre me admiraram tanto por causa da minha dediação, por causa de tudo que eu tinha conquistado até o momento, mesmo sendo tão jovem: na minha cabeça, essa adminarção ia acabar se elas soubesse que eu era gay. Eu amava tanto os meus amigos, necessitava tanto deles (e ainda necessito), não para me ouvir, mas para eu ouvi-los e dar meus conselhos, meus pitecos, isso sempre me fez um bem danado... Contar para eles poderia acabar com tudo isso... Tá, eu fui egoísta, mas quem não é nessas horas?? Poderia ter confiado mais neles, ter considerado a possibilidade de que eles me aceitariam do jeito que eu sou porque eles me amam e me escolheram como amigo, mas o medo de perde-los era maior que tudo!
Já com meus pais foi (e é) diferente. Eles sempre deixaram bem claro que eu era uma das coisas mais importantes da vida deles, e que eles jamais iam me criticar ou renegar por ser homossexual. Os meus pais são os melhores pais desse planeta, são compreensivos, liberais... Mas eu não contei a eles, por que eu penso demais. Eu acho que isso poderia causar mais preocupações a eles do que eles já têm. E depois, eles seriam criticados demais por me aceitar, principalmente pela família. Eu penso neles o tempo todo, não quero expo-los a esse tipo de preconceito, de preconceito já me basta o que eu sofro. Tudo bem, pode parecer que não confio neles, mas a questão não é essa... Se eu estivesse pensando só em mim, com certeza já teria contado!
Mas enfim, voltando a 2008, toda aquela situação estava me esmagando... Eu não aguentava mais, já estava prejudicando até o meu rendimento escolar, não sei como eu consegui ficar tanto tempo sob aquela pressão. Foi então que apareceu a salvação, o ombro, o corpo, a cabeça, o ouvido, o homem competo, que me tirou daquele estado de declinio emocional constante. O nome dele é Walmir, e naquela altura do campeonado ele já era o meu melhor amigo. Nos conhecemos no primeiro ano do ensino médio, poucos meses e já não nos desgrudávamos mais (vou falar dele merecidamente em outro post, aqui já não dá mais espaço). Na verdade, foi uma atitude de Walmir que me fez me libertar: certo dia, Walmir foi dormir lá em casa, como faziamos sempre (não pensem besteira), gostávamos de ficar conversando até amanhecer, mas nesse dia em especial o assunto era mais complexo do que das outras vezes. Walmir me falou que era era gay. Isso mudou tudo! Simplesmente tudo... Isso me deu coragem para contar a ele que eu tbm era gay, afinal, ele não ia me discriminar... Foi como se uma tonalada tivesse saido das minhas costas! Me deu novas perspectivas de vida, de felicidade... Ele me apoiou e eu o apoiei, e assim, juntos, tomamos a iniciativa de contar isso para os nosso outros amigos. A reação não podia ser melhor, todos eles nos aceitaram, nada mudou na minha amizade com nenhum deles, foi menos uma tonelada de cima do meu lombo... Vocês tem ideia do que isso significou pra mim naquele momento? Hoje eu devo minha vida a Walmir, ele se tornou uma das pessoas mais importantes para mim.
Mas não, o problema não acabou aí... Eu ainda não contei para os meus pais, nem para as outras pessoas da minha familia. Essa é uma das coisas que me deixa mais aflito hoje... Não sei se vou ter coragem de contar para eles, mesmo sabendo que eles vão me aceitar. Eles já têm muitos problemas... Foi então que eu decidi fazer o que já cantava o Trovador Solitário: me fazer em mil pedaços para eles juntarem... E eu acho que eles já estão fazendo isso, e estão esperando o meu tempo... Hoje, quando acordei e verifiquei meus e-mails, descobri que minha irmã estava me seguindo no twitter. O twitter e esse blog são as únicas redes sociais em que eu não tenho medo de dizer o que eu sinto, me exponho por completo, propositalmente... Como eu disse, estou me fazendo em mil pedaços, esperando ansiosamente que eles completem esse quebra-cabeça...Se é melhor para mim ou para eles, je ne sais pas. O fato é que essa foi a maneira que eu encontrei de fazer o que devia ser feito. Cansei de ser opaco, quero ser transparente, ser feliz plenamente, me livrar de pelo menos um dos fantasmas que me tiram o sono ainda hoje... Agora é só uma questão de tempo! Me desejem sorte, amigos... Sem vocês isso não seria possível!

Abraços sinceros e verdadeiros... Até o próximo post!

11 comentários:

FOXX disse...

ow qrido...
se vc tem pais tão bons pq não tenta falar com eles...
é óbvio q inicialmente vai ser dificil
mas vc tb sabe q vai tirar um peso enorme de suas costas
mas faça isso, de qualquer forma, qndo se sentir preparado, até lá, fale aqui a vontade tudo o que quiser, estaremos sempre dispostos a te ler.

DMalk disse...

Me identifiquei muito com seu post, sei que e difícil mas concordo com o foxx quando ele diz que você deveria falar com seus pais pelo menos com eles, eu sei em parte como é aliviar esse peso, apesar de pouca gente saber sobre mim e ainda me foi muito importante contar sobre mim para os poucos que eu consegui.

Luciana Nepomuceno disse...

Meu querido afilhado,

eu fico encantada com seu jeito honesto e corajoso de se dizer aqui. Eu GOSTO de ver você. Muito. E, tenho certeza, muitos gostam e gostarão. Beijos borboletantes

PS. Sabe, ainda estou malzona, mas ler você me faz bem...

Anônimo disse...

Complicado em? Mais tudo ira se resolver!

DPNN disse...

O mais difícil é sempre assumir para si mesmo. Depois que a pessoa desiste de tentar mudar, a vida se encarrega do resto...

Anônimo disse...

Lindo post. Lindo mesmo.

O maior quebra-cabeça já foi montado: aquele que residia dentro de ti. O resto vem naturalmente. É só ter um pouquinho de paciência.

Um abração!

BsVox disse...

Vanelis,
Querido, Ao inves de ser transparente você pode ser cintilante ... Risos ... Eu sou assim: Cintilante, exuberante Risos ...

Me sinto completamente solidario a sua historia é muito parecida com a da maioria de nós ...

Quanto a virgindade nao tenha medo ou vergonha ... Cada um tem seu tempo: Eu era virgem de boca até os 16, virgem do resto até os 18 com homi então ainda foi tempo ...

Unknown disse...

Júlio ( sobre seu comentário me atacando no às de Espadas...), não sou eu que defini perante a História humana o que é o nazismo. E houveram vários outros comentários concordando comigo, falando até que assinam embaixo.
Uma pessoa que vai a parada somente para se divertir, que não percebe - ou nega - o cunho político da parada; que se preocupa com a roupa que o outro está usando, se é ou não afeminado, se usa ou não sombra, isso num país que mais mata gays no mundo, comprovadamente, é o que?
Pior é que tenta se defender, mas só confirma o preconceito. Teria é que ir para as paradas lutar, mostrar solidariedade e empatia com TODAS as pessoas perseguidas, pouco importando se são afeminadas ou não. Não se combate um preconceito alimentando outro.
Ninguém tem obrigação de ser "tolerante" com preconceitos e com bobagens imaturas. Aliás, até prefiro que seja imaturidade do que outra coisa.
Você me critica, mas se não fosse eu essa discussão nem teria começado, as pessoas têm medo de falarem o que sentem e vivem pondo panos quentes, em nome do "bom senso". O verdadeiro bom senso é combater o machismo, a misoginia, os preconceitos todos, o racismo, o patriarcalismo, esse é o verdadeiro bom senso. E isso, eu faço desde 1977, no Grupo Somos, que foi o primeiro grupo de Luta Homossexual que surgiu. Hoje eu luto em defesa dos idosos gays, com grande sucesso, até, por que todos os grandes jornais e até o Fantástico já me entrevistou. A pouca liberdade que você, hoje, e outros homossexuais gozam se deve à luta e coragem de pioneiros como eu, também. Pelo menos eu dou a cara à tapa. E você também entendeu tudo errado, nunca tive preconceito contra heterossexuais, tem muitos que são maravilhosos, assim como tem gays maravilhosos ou não, a orientação sexual, como pode ver, não livra a pessoa de preconceitos. Você, com toda a certeza, não leu meu blog, não leu a matéria sobre gays nazistas escrita em 2006 não por mim, mas pelo mestre e psicanalista Júlio Nascimento, famoso em toda a mídia. Quer debater, contestar, tudo bem, debata! Mas com conhecimento e argumentos.
Ricardo
aguieiras2002@yahoo.com.br
http://dividindoatubaina.wordpress.com/

Lobo disse...

A vida muda, o mundo muda, a gente muda... e você tem sorte XD.

Não é todo mundo que dá sorte de ter alguém tão certo que vai aceitar nossa confissão numa boa. Por exemplo, a primeira pessoa pra quem eu contei surtou completamente. São essas pequenas coisas que temos que estar comemorando todos os dias.

Sorte é tudo que podemos desejar. O resto é com você.

E um viva pros nossos defeitos de fábrica! hahaha

Luciana Nepomuceno disse...

Ei, afilhado, tarefa de casa (e AMEI a tal diferença de gerações, eu tenho 35 anos, mas tenho alma de uns 80): leia o texto da Juliana que acabei de linkar lá no Borboletas e talvez fique mais claro esse negócio de dia de luta e talz. Beijos da madrinha

Gui disse...

Acho que falta coragem, não? Segurança você já tem, em todos os aspectos.

Não falta só a coragem de dizer "Pai, Mãe, tenho algo pra contar pra vocês." ?

Beijos